
Pedro Bial analisa o sucesso da nona edição do 'Big Brother Brasil'
RIO - Há nove edições à frente do "Big Brother Brasil", Pedro Bial é peça-chave do programa dirigido por Boninho. Suas citações e observações são ouvidas pelos participantes como valiosos conselhos ou enigmas a serem decifrados, e que botam mais lenha na fogueira. Em entrevista ao GLOBO por e-mail (ele se diz tão confinado quanto os candidatos), o jornalista analisa a atual edição do "BBB" e explica por que está à vontade na frente das câmeras ("essa turma é boa ao vivo") e por que a dinâmica do jogo continua rendendo. Para ele, o público aprendeu a analisar a batalha sob uma perspectiva menos emocional, o que serve melhor ao propósito de divertir. Propósito que, diz, não deve ser minimizado.
RIO - Há nove edições à frente do "Big Brother Brasil", Pedro Bial é peça-chave do programa dirigido por Boninho. Suas citações e observações são ouvidas pelos participantes como valiosos conselhos ou enigmas a serem decifrados, e que botam mais lenha na fogueira. Em entrevista ao GLOBO por e-mail (ele se diz tão confinado quanto os candidatos), o jornalista analisa a atual edição do "BBB" e explica por que está à vontade na frente das câmeras ("essa turma é boa ao vivo") e por que a dinâmica do jogo continua rendendo. Para ele, o público aprendeu a analisar a batalha sob uma perspectiva menos emocional, o que serve melhor ao propósito de divertir. Propósito que, diz, não deve ser minimizado.
-Nada que nos divirta e faça rir é perda de tempo - defende Bial, que volta e meia segura pepinos ao vivo.
O GLOBO: O quarto branco, onde três candidatos foram confinados, não foi crueldade?
PEDRO BIAL:Não. Já houve provas de resistência muito mais "cruéis". O conceito de crueldade não se aplica a, ou não explica, relações de um jogo consensual. Só entra no "BBB" quem quer, quem quer muito, e topa ir às últimas consequências. Quem foi para o quarto branco, o fez por propósitos próprios. Além disso, poderia sair quando bem entendesse, bastando apertar um botão.
Nesta edição, o público aceitou, pela primeira vez, um voto combinado (que levou à eliminação de Michelle) e eliminou um nome vítima de "fogo amigo"(Norberto). A maneira de o público votar mudou?
BIAL: Depois de nove edições do programa, o público não apenas se apropriou do show, como sabe o que fazer para apimentar a brincadeira. Não é mais um voto movido apenas a paixão. O programa e o jogo ganharam em complexidade e o olhar do público, em sofisticação e capacidade de "leitura" e interpretação dos eventos e não-eventos que fazem a rotina da casa. O público vê cada participante como um querido ou um odiado, mas sabe que cada um é um peão neste xadrez de três meses. Isso às vezes se reflete na escolha de quem permanece ou sai do jogo. Em edições anteriores, tivemos jogadores que conquistaram o Brasil e o prêmio final porque tinham problemas financeiros. Essa tendência praticamente sumiu nos últimos anos. O vencedor agora é aquele que desenha a história mais rica na casa. Cumpre uma trajetória inteligente, ou percebida como tal, autêntica, ou percebida como tal. Porém, a história de vida fora da casa, contada pelos inúmeros jornais e revistas que cobrem o "BBB", os sofrimentos, vicissitudes e dificuldades financeiras ainda são vetores importantes na decisão popular. O abraço do público modelou o formato do programa. Sim, o brasileiro custa, mas aprende a votar, nem que seja para manter a dinâmica de um jogo comprometido apenas com a diversão. Um amigo alemão passou férias no Brasil e assistiu ao programa. Ficou encantado com a agilidade e a sedução da linguagem e, principalmente, achou muito engraçado, divertido demais. Só que fez a ressalva: "Apesar de ser uma perda de tempo". Repliquei: "Nada que nos divirta e faça rir é perda de tempo". Outra observação: no último paredão, entre Ton, Ana e Mirla, o voto não teve nada de cerebral, o público votou com o fígado.
BIAL:É só tirar o ponto de interrogação da pergunta que ela está respondida. Já temos uma geração que cresceu assistindo ao programa. Além dessa geração de telespectadores jovenzitos, temos gente mais madura que não tem vergonha de acompanhar e discutir o programa. O "BBB" é um jogo com diversas faces, ao gosto do freguês. Serve de entretenimento e é fundado na participação direta do público, através da interatividade instantânea. Quem quiser, pode até aprender algo sobre comportamento humano. É o jogo da convivência, numa situação de confinamento, com acontecimentos e desafios imprevistos e inusitados. Isso traz a possibilidade de aprender com a experiência alheia, talvez uma contradição entre termos. Como curiosidade não tem idade, essa farra é franqueada não somente aos mais jovens. As pessoas estão entendendo melhor o "BBB" e topando viver esta experiência coletiva.
Depois de tanto tempo apresentando o programa, o que mais te surpreende nos candidatos? Ficou surpreso, por exemplo, com o comportamento pouco humilde dos participantes da terceira idade?
BIAL: É, talvez o mais surpreendente seja testemunhar os mesmos "erros" mais gritantes, repetidos por jogadores "especialistas" no programa. Idade não traz necessariamente sabedoria. Bem-vindos à vida real. Nonô foi canastrão demais. Naná começou insuportável, gritando muita besteira, mas foi aprendendo, baixou o tom e se encontrou no jogo. Acho até que tem chances de chegar à final. Naná é uma jogadora hábil, oculta atrás de uma performance atrapalhada, premeditada ou não...
Você parece estar se divertindo nesta edição. Essa turma é mais imprevisível que a maioria?
BIAL: Essa turma é muito boa ao vivo. Rende quando eu proponho reflexões, responde bem às provocações, é mais articulada do que a média das turmas anteriores. Gosto quando a conversa flui, nessa relação virtual tão íntima que temos. São ótimos entrevistados. Turma forte, determinada a ganhar o milhão.
Alguns candidatos parecem estar visivelmente representando para as câmeras, como se já soubessem que as cenas serão usadas no programa editado. Essa experiência (todos citam "BBBs" antigos) atrapalha ou ajuda?
BIAL: A formulação da pergunta revela uma das características mais fascinantes do programa. Você disse "parecem... visivelmente". É isso: pode estar visível e ser apenas impressão, pode ser só aparência e ser concreta como rocha. Na edição, esse tipo de gracinha para as câmeras é limado. Só é usado o humor involuntário. O resto é careta, boquitas.

Quem é o candidato que mais pode surpreender?
BIAL: Não devo falar sobre candidatos, mas abro uma exceção: uma mulher pode surpreender.
Quem foi, até hoje, o candidato que mais te desafiou, que mais te deixou sem jeito no ar?
BIAL:Não tem ninguém em especial, é sempre um desafio, uma corda bamba, artes de circo...
Nesta edição, não há, entre as mulheres, nenhuma beleza estonteante. Isso foi proposital? Acha que o público pode se identificar mais com pessoas que parecem mais normais?
BIAL:Podem não ser perfeitas, mas são charmosas e com sua beleza e brilho próprios, parecidas com nossas mulheres, mães, irmãs, primas, amigas e namoradas. Não creio que consigamos tanto controle no processo de seleção. Não é um concurso de miss...
Os candidatos querem mais o milhão ou a fama?
BIAL:O que é considerado fama parece atraente... Sim, o "bróder"pode até gostar da idéia de ficar famoso, ser reconhecido nas ruas e viver tudo o mais, inclusive amargar arrependimento. O objetivo central, porém, é o "dindim". A maioria das pessoas trabalha duro vida afora e não consegue juntar R$ 1 milhão. O "BBB" é uma ilusória chance de enriquecer fácil e rapidamente.
Como é seu dia a dia em tempos de "BBB"? Chega em casa e fica ligado no pay-per-view? Consegue se desligar do resto?
BIAL: Eu mergulho fundo no "Big Brother", para observar e conhecer os pequenos e grandes acontecimentos na casa. Sou um confinado virtual! Cada um tem o seu "BBB". O meu tem que começar de minha experiência pessoal e buscar traduzir o que o público está expressando, fazer as perguntas que o espectador quer fazer. "BBB": um programa que não acaba quando termina!
(Revista da TV)